terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Sonho Missionário de Scalabrini

João Batista Scalabrini, nascido no dia 8 de julho de 1839 em um pequeno povoado chamado Fino Mornasco, filho de Luís Scalabrini e Colomba Trombetta, levava uma vida tranqüila e normal como de qualquer jovem de sua idade até que, aos 18 anos, declarou que queria ser padre.

Enfrentando os desafios da época e sentindo o apoio da família, Joãozinho, como afetuosamente era chamado pelos seus familiares e amigos, ingressou no Seminário Diocesano de Como em outubro de 1857. Com um comportamento exemplar e feliz por sentir-se chamado por Deus ao sacerdócio, o jovem Scalabrini estudou Filosofia e Teologia, e no dia 30 de maio de 1863 foi ordenado sacerdote.

Uma vez ordenado sacerdote, Pe. João Batista Scalabrini pensava em poder realizar seu sonho missionário juvenil: ser missionário na Índia. Decidido a ingressar no Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras (PIME) Scalabrini partiu para Milão, mas o seu bispo o chamou e não permitiu deixar a Itália, dizendo-lhe: “Eu preciso de você; suas Índias são a Itália!”. Assim, Scalabrini voltou ao Seminário Diocesano e aí se dedicou por sete anos, primeiro como professor e depois, nos último dois anos, como reitor.

Mesmo atuando no seminário, o sonho missionário continuava ardendo seu coração. Por isso, não obstante suas atividades no seminário, estava ligado ao povo, dispensando seu tempo livre e suas forças.

Nomeado bispo de Piacenza em 1875, com apenas 36 anos de idade, o sonho missionário de Scalabrini parecia haver terminado. Mas, foi justamente aí que este sonho recobrou forças, pois foi em suas visitas pastorais onde Dom Scalabrini percebeu que o fenômeno migratório interpelava-o à missão.

Certo dia, ao passar pela Estação de Milão, Scalabrini viu o desespero de milhares de pessoas que deixavam a Itália e partiam em busca de melhores condições de vida na América. Frente a isso Scalabrini comoveu-se e decidiu então dedicar sua vida a serviço dos migrantes. Foi assim que fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos, no ano 1887 e a Congregação das Missionárias de São Carlos, em 1895.

Além destas fundações, Scalabrini continuou sua ação em favor dos migrantes através de visitas às maiores cidades da Itália e dos escritos que tratavam da questão migratória. Fez uma proposta ao Vaticano para a criação de um organismo pontifício encarregado de promover a pastoral migratória e se dedicou às visitas aos migrantes e missionários nos Estados Unidos, Brasil e Argentina.

O sonho missionário de Scalabrini é hoje o sonho missionário e a missão de muitos sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos espalhados pelos cinco continentes que abraçaram o seu jeito de ser: ser migrante com os migrantes e servi-los onde o Pai e Senhor da messe os envia. E, pode ser também o seu sonho e a sua missão, querido amigo leitor.

Pe. Alexandre De Nardi Biolchi, cs
alebiolchi@yahoo.com.ar

“Fazer-se tudo para todos”: Scalabrini e as visitas pastorais

A Igreja está comemorando o Ano Paulino (06/2008 – 06/2009), na passagem dos dois mil anos do nascimento do grande apóstolo Paulo. Gostaria de sublinhar, nesse sentido, que o Bem-aventurado Scalabrini levou muito a sério um dos princípios do grande apóstolo: “Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns” (1° Coríntios 9,22). Esse princípio, cultivado na espiritualidade, aparece em todos os aspectos da ação scalabriniana. Todavia, está particularmente evidente nas visitas pastorais.

O agir revela aquilo que a pessoa tem como princípios e valores. Em linguagem religiosa, podemos dizer que a espiritualidade da pessoa transborda em uma ação que revela o valor e a profundidade dessa espiritualidade.

O Bem-aventurado Scalabrini, como muitos bispos de seu tempo, poderia ter-se contentado em realizar a visita pastoral na sua diocese, exigida de cada bispo de cinco em cinco anos, visitando os centros maiores e enviando para os vilarejos padres emissários. Ele, pelo contrário, desejava pessoalmente encontrar cada um daqueles a ele confiados. De fato, em seus quase trinta anos de episcopado em Piacenza (Itália), realizou cinco visitas pastorais, e já anunciara a sexta. Dizia: “A mais bela consolação que um bispo pode receber  é conhecer de perto os seus amados filhos e por eles ser conhecido!”.

O desejo de fazer-se “tudo para todos” revela-se no incansável zelo que o levava a não esmorecer diante das por volta de 200 paróquias localizadas nas montanhas (em lombo de burro ou de cavalo), diante dos alojamentos precários em vários lugares, diante do trabalho estafante do dia a dia da visita. Por vezes, diante da chuva, os acompanhantes o aconselhavam a suspender a viagem... ele não concordava; como bom pastor pensava nas ovelhas confiadas ao seu pastoreio.

Não bastasse o trabalho em sua diocese, com olhar agudo Dom Scalabrini, por ocasião já de sua primeira visita pastoral, percebeu o fenômeno que levou milhões de italianos a emigrar para as Américas. Poderia ter deixado suas ovelhas ausentes aos cuidados dos pastores do Novo Mundo. Também aqui o que cultivava na interioridade não permitiu que se acomodasse. O “tudo para todos”, de fato, não conhece limites! É assim que o vemos percorrendo a Itália para conscientizar a Igreja e a sociedade, mobilizando leigos e fundando os Missionários e as Missionárias de São Carlos. Não bastasse, ele mesmo foi em visita aos emigrantes: em 1901, no Estados Unidos; em 1904, no Brasil.

O princípio paulino, todavia, revela-se particularmente quando o fazer-se “tudo para todos” implica em dar a própria vida. O Bem-aventurado Scalabrini, de fato, se não sofreu uma morte como mártir, perdeu a saúde especialmente em função das enormes fadigas que suportou nas visitas pastorais, na diocese de Piacenza e nas Américas.

Diante do princípio evangélico de que pelos frutos se conhece a árvore (cf. Mateus 12,33), podemos logo entender quem foi Dom Scalabrini e que espiritualidade o animava! Outras páginas poderão apresentar ao leitor o “outro lado da medalha”, isto é, o como Dom Scalabrini alimentava sua espiritualidade. Quis, todavia, mostrar sinteticamente o resultado de quanto ele cultivava em seu interior, e apenas em um aspecto: as visitas pastorais.

Que também nós, animados pelo exemplo de São Paulo e do Bem-aventurado Scalabrini, deixemos de lado a preguiça e busquemos fazer-nos “tudo para todos”, cultivando a espiritualidade e, depois, colocando “mãos à obra”.

Pe. Antônio César Seganfredo, cs
Ribeirão Pires, SP