terça-feira, 22 de junho de 2010

3º Congresso Vocacional do Brasil

Motivados pelo tema “Discípulos missionários, a serviço das vocações” e convocados pelo lema “Ide, pois fazer discípulos entre todas as nações” (cf. Mt 28, 19), a Igreja do Brasil celebrará o III Congresso Vocacional. O evento acontecerá de 3 a 7 de setembro, em Itaici, São Paulo.

Este congresso propõe-se a celebrar e partilhar a caminhada do serviço de animação vocacional, a aprofundar a teologia das vocações na perspectiva do discipulado e da missionariedade, a consolidar a identidade do animador (a) e do serviço de animação vocacional, e a oferecer pistas de ação para o serviço de animação vocacional. Como enuncia o Texto-base, o III Congresso realiza-se dentro do processo de continuidade dos congressos anteriores, acolhendo a orientações do Sínodo da Palavra de Deus e da Conferência de Aparecida, no que tange a dimensão vocacional (discipulado e missão).

Neste sentido podemos falar da necessidade de promover a pedagogia do encontro com Jesus Cristo, que desperte e forme autênticos discípulos-missionários. Pois conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas; e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa maior alegria.

O III Congresso será um espaço propício para provocar e estimular no serviço de animação vocacional uma conversão pastoral e renovação missionária, que deve impregnar todos os planos pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e de qualquer instituição da Igreja. A conversão implica em escutar com atenção e discernir o que o Espírito está dizendo às Igrejas através dos sinais dos tempos, onde Deus se manifesta. Para tanto, se exigem atitudes de abertura, diálogo e disponibilidade para promover a co-responsabilidade e a participação efetiva de todos. Urgência pastoral na animação vocacional é o testemunho de comunhão eclesial e de santidade de vida.

O Congresso também traz a preocupação vivida e enfrentada pela Igreja, que conforme Aparecida se constata o número insuficiente de sacerdotes, a sua não justa distribuição e a relativa escassez de vocações ao ministério e à vida consagrada.

Portanto, acreditamos e esperamos que a realização deste Congresso seja uma oportunidade e um momento de graça para toda a Igreja. Oportunidade para refletir sobre o dom da vocação que Deus concede a cada um de nós e momento de graça para reafirmarmo-nos no seguimento a Jesus Cristo, sendo autênticos discípulos e verdadeiros missionários.
 
Pe. Alexandre De Nardi Biolchi, cs

A vida é feita de escolhas

A etapa da juventude é sem dúvida a etapa mais bela da vida humana. Mas, ao mesmo tempo também é a mais complexa e desafiadora. Pois é nesta etapa que se tomam as principais decisões da vida. É neste momento histórico da existência que se fazem as escolhas mais importantes. Escolhas que irão determinar para sempre o rumo da vida.

Diante disso duas atitudes podem ser tomadas: a primeira, a de fazer as escolhas, tendo a coragem de correr o risco de nem sempre acertar nas decisões; e a segunda, adiar sempre e assim não se comprometer com nada e nem com ninguém.

Em geral na atualidade a segunda opção é a tendência mais forte no mundo juvenil. Ninguém quer tomar decisões. Fazer escolhas é algo dolorido, pois são muitas as opções. E, comprometer-se é algo sério, ainda mais quando se trata de decisões e escolhas que vão durar por toda a vida. Por isso, seja no nível profissional, pessoal ou vocacional, os jovens de hoje acabam deixando suas eleições sempre para depois.

Entretanto escolher é preciso. Muitas são as escolhas que devem ser feitas ao longo da existência e são elas que vão constituir e construir a vida de uma pessoa, tornando-a mais ou menos feliz. Cada dia é uma oportunidade de novas escolhas, opções, descobertas e realizações. Cada momento da vida é um desafio para mais uma etapa da história profissional e vocacional que cada ser humano é convidado a escrever.

Jovem, é hora de você tomar consciência da grandeza de tua vocação e missão como protagonista da história. É tempo propício para colocar-se a serviço da vida, vivendo o poder do momento presente, mas numa visão de futuro. A vida humana é processo, a história é processo dinâmico e, é necessário que reconheças o significado e a importância de realizar a parcela que lhe corresponde no registro dessa história.

Diz o filósofo e educador Rudolf Steiner: “O futuro é preparado à medida que o presente, conservando-se no solo do passado, é transformado”. De fato é assim que se faz a história, tendo como referência o passado, animando o presente e projetando o futuro com otimismo e esperança. Se hoje estamos no ponto em que nos encontramos é porque outros vieram antes de nós, num determinado período da história e, fizeram a sua parte neste processo. Agora é o nosso tempo. O momento é este. É a nossa oportunidade de realizar tudo o que está ao nosso alcance, preparando caminhos, discernindo objetivos e projetando sonhos e ideais.

Tudo o que está em nossa volta é um convite para nos sentirmos sempre, em qualquer ato ou lugar, na presença de Deus. E justamente por isso não há razões para ter medo de fazer as escolhas que nos correspondem. No entanto, para perceber essa presença, é preciso ter um olhar mais coerente, um olhar de fé. Precisamos saber e querer escutar, enxergar e sentir a cercania de Deus.

Queremos e sonhamos com um mundo em que a vida, a pessoa humana seja o centro das atenções. Queremos transformar o presente e, se isso parecer utopia, mesmo assim continuemos animados e na certeza de que, como afirma Paulo Freire: “Nenhuma geração vê o que gostaria de ver. Mas o que é preciso é que a geração, mesmo sabendo que não vai ser aquilo que ela gostaria de ver, tome consciência de que, se ela não fizer o mínimo que pode fazer hoje, nem se quer a outra geração que vem vai ver o que gostaria de ver”.

Jovem, é preciso fazer a nossa parte. É preciso fazer as nossas escolhas. Mas não esqueça que, sendo a vida feita de escolhas é preciso viver as escolhas certas!

Pe. Alexadnre De Nardi Biolchi, cs
 

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Vocação

Se chamarem pelo teu nome,
Responde, antes mesmo de identificar a voz;

Se te convidarem a deixar casa e terra,
Parte, mesmo que não conheças o destino;

Se te enviarem em missão,
Vai, ainda que ignores para onde;

Se baterem à tua porta,
Abre, ainda que não seja um rosto amigo;

Se te pedirem um pedaço de pão ou um copo de água,
Dá do que tens, antes mesmo de saber a quem;

Se ouvires o grito dos pobres e excluídos,
Estende a mão, mesmo ignorando de onde vem o clamor;

Se fores chamado à ação,
Sê solidário, mesmo sem saber o que construir;

Se teu irmão reclamar tua presença,
Pára e ouve, ainda que seja apenas o silêncio;

Se um estranho te dirigir um olhar ou um sorriso,
Acolhe-o em teu coração, ainda que seja desconhecido;

Se o caminheiro se perder no caminho,
Faz de tua vocação uma pátria,
Mesmo que não lhe conheças a cultura;

Se tua alma inquieta não consegue repousar,
Interroga o mistério que mora em teu íntimo
E em segredo põe-te à escuta...

Pois...
Por trás de cada uma dessas vozes
Deus te chama e te envia a um novo serviço
E conta com tua resposta pronta e positiva.

Pe. Alfredo J. Gonçalves
Itaici, Indaiatuba/SP, 10/02/04

Que é a Vocação?

Todo ser humano tem uma missão a cumprir dentro das condições mais diversas. Para a pessoa humana realizar essa missão perfeitamente necessita descobrir a sua vocação. Mas, infelizmente muitos passam toda a vida sem saber nem mesmo o que é a vocação ou acabam tendo uma idéia falsa do que ela significa e, portanto, jamais chegarão a fazer uma opção.

Que é a vocação? Segundo um renomado dicionário da língua portuguesa, vocação é o ato de chamar, tendência, pendor, talento, aptidão, etc. Esta definição não está errada, porque de fato vocação, proveniente do verbo latino “vocare”, significa chamar. Entretanto esta definição nos parece incompleta. Vocação é muito mais que isso. Vocação é uma inclinação para algo determinado e chamado da graça à ordem sobrenatural. Portanto, vocação é um convite, um chamado de Deus que encontra na pessoa humana a resposta generosa ao aceita-la ou egoísta ao negá-la.

A vocação é uma graça, um Dom de Deus. Uma vocação caracteriza-se por uma série de dons, de luzes, de inspiração sobrenatural, baixo cuja influencia, a alma sente-se atraída a um estado ou outro. A vocação é um mistério de amor entre Deus que, por amor, chama a pessoa humana que, também por amor, lhe responde livremente.

Aqui temos que fazer uma importante distinção. Uma vocação nunca se poderá discernir sem a liberdade de pensamento. Deus criou o homem e a mulher livres, ou seja, a sua Imagem e Semelhança (Gn 1, 26). Portanto, se a alguém o obrigam a escolher uma determinada vocação, por um ou outro motivo, isso não é graça e chamado de Deus, mas sim fanatismo e escravidão. Por isso para descobrir qual é a vocação a que Deus chama é preciso consultá-lo.

São Paulo, no momento decisivo de sua conversão exclamou: “Quem és tu, Senhor?” (At 22, 8). E, em seguida perguntou: “Que devo fazer, Senhor?” (At 22, 10). Esta deveria ser nossa oração. Esperando que no silêncio a inspiração divina suscite uma resposta em nosso coração.

Muitas pessoas buscam tantos conselhos na vida, cartomantes, conselhos telefônicos, amigos, etc., e quase nunca deixam a Deus falar. Devemos recordar que a oração não é um monologo, mas um diálogo. Não basta com falar a Deus de tantas e tantas coisas, é preciso que lhe demos espaço para que ele nos fale. É preciso aprender a estar em silencio, para poder escutar a voz de Deus. Jesus mesmo, antes de sua vida pública, foi ao deserto – lugar de silencio – para jejuar e orar. E, foi neste silêncio que soube diferenciar as tentações do demônio da vontade de Deus.

A vocação não é uma ordem, senão um chamado, um convite. Deus dá continuamente suas luzes, como um suspiro. Recordemos a passagem do livro dos Reis, onde o profeta Elias escondeu-se em uma gruta e esperou o Senhor. Primeiro chegou um furacão, mas o Deus não estava ali. Logo um grande terremoto, mas tampouco Deus estava ali. Depois do terremoto, apareceu fogo, mas Deus não estava no fogo. Finalmente, chegou uma brisa suave e Elias reconheceu Deus e saiu dela (cf. 1 Reis 19, 9-14).

A vocação não é um sentimento, na verdade a vocação não se sente. É, antes, uma certeza interior que nasce da graça de Deus que me toca a alma e que me pede uma resposta livre. Caso Deus chame, a certeza irá crescendo na medida em que a sua resposta for mais generosa. Assim, a fonte da vocação é sempre Deus. Aquele que livre nos criou nos chama para que na liberdade possamos optar por amar e servi-lo.

Pe. Alexandre De Nardi Biolchi, cs.
Passo Fundo/RS.

O mundo é nossa pátria

Acima de todos os muros e cercas
Erguem-se os sonhos dos que migram:
Como espigas de milho ou cachos de uva,
Levantam-se do chão para buscar o sol.



Acima dos impérios e seus tiranos
Ergue-se a esperança dos que caminham:
Como um rio que tudo arrasa ou tudo irriga,
Segue para o mar, irmão de todos os povos.



Acima das leis que defendem a riqueza de poucos
Erguem-se o canto e a dança das multidões:
Como um jardim no despontar da primavera,
Espalham flores e cores pelas ruas e campos.



Acima dos latifúndios e das contas bancárias,
Erguem-se o sorriso da criança e o olhar do amor:
Como estrelas em meio à noite escura,
Apontam o rumo da grande travessia.



Acima do trovão e da força das armas
Ergue-se o som dos passos em marcha:
Aos milhares buscam o horizonte
De um amanhã que já se faz menino.



Acima da guerra, da violência e da morte,
Ergue-se a voz dos que querem viver:
Como uma orquestra de cores e amores
No solo da história lança a semente.



Acima das fortalezas e dos exércitos
Ergue-se o grito dos que não se deixam abater:
Como o beijo da aurora que se aproxima,
Leva luz aos subterrâneos e porões ocultos.



Acima da fronteira que divide e separa
Ergue-se a utopia da cidadania universal:
Como o vento que não conhece barreiras,
Anuncia que o mundo é nossa pátria!


Pe. Alfredo José Gonçalves

Itinerante por Amor

Toda pessoa de fé tem uma espiritualidade. Ela é fruto daquilo que se crê e se vive. É ação do Espírito que age no íntimo de cada ser humano. Toda verdadeira espiritualidade conduz a um processo de transformação interior. “Mestre, o que é espiritualidade?” perguntou o discípulo e ele respondeu-lhe: “Espiritualidade é aquilo que consegue levar-te a uma transformação interior”.

A espiritualidade assim entendida, não se resume a práticas mágicas de incenso queimado ou de novenas apenas para receber alguma graça e nada mais. Espiritualidade é um estilo de vida fundamentado na vivência prática e concreta do Evangelho. É viver como Jesus. É transformar o próprio ser e, de conseqüência, toda a vida. É poder dizer como o Apóstolo Paulo: “Já não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.

Assim é a espiritualidade scalabriniana: um estilo de vida que imita Jesus Cristo.

Jesus entende a sua vida como um caminhar permanente (“É preciso que eu caminhe hoje, amanhã e depois de amanhã” – Lc 13,33); como um andar ao encontro das pessoas para levá-las consigo no caminho da transformação. Como seres humanos estamos sempre a caminho. Não podemos ficar parados. E caminhando nos transformamos. Estamos a caminho com Jesus. Ele é o nosso guia: aquele que abre o caminho e que vai à nossa frente. Portanto, nosso caminhar é um “seguir” Jesus. Ele é o “sem pátria”, excluído por muitos, que anda por este mundo afora sem encontrar quem o receba. Ser “sem pátria” faz parte também do nosso “ser cristão”.

A paixão por Jesus Cristo é o segredo da vida e da ação de João Batista Scalabrini. Ele contempla continuamente o Filho de Deus que se fez homem, que veio “armar a sua tenda entre nós”, caminhar com a humanidade e reconduzir o ser humano renovado para o Pai. Scalabrini contemplou o rosto de Cristo no rosto de tantos migrantes sofridos. Viu neles o Cristo Peregrino que continua sua caminhada pelos caminhos tortuosos da humanidade. Cristo se deixa contemplar no migrante, no itinerante, no peregrino. O Fundador passou esta sua paixão para seus missionários e missionárias.

A itinerância é uma característica chave da espiritualidade scalabriniana. Como Jesus foi itinerante, como o migrante é um itinerante, assim o scalabriniano/a é itinerante. Caminha e peregrina com a consciência de que a pátria verdadeira está na eternidade. Caminha ao encontro do outro, vai a sua procura. Caminha porque tem um rumo e uma meta a alcançar. Caminha porque é missionário/a, ou seja, leva consigo a boa nova de Cristo. Todo itinerante é um ser desprendido dos bens (“Não levem nada para o caminho...” – Lc 9,3) e dos afetos (“Quem não deixar pai, mãe, irmãos...” – Lc 14,26); é humilde (“Caminha humildemente com o teu Deus” – Mq 6,8); é disposto ao sacrifício (“Quem não toma a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo” – Lc 14,27); confia na Providência (“Não fiquem procurando o que vão comer e o que vão beber... O Pai bem sabe que vocês têm necessidade dessas coisas” – Lc 12,29-30). Viver a itinerância como um caminho espiritual é deixar-se guiar pelo Espírito e transformar a própria vida.

Itinerante por amor, por paixão, por vocação, assim como o Cristo Peregrino: esta é a marca do scalabriniano/a.

Pe. Evandro Antônio Cavalli, cs

A Semente

Uma só semente contém a árvore,
Contém a flor, a folha e o fruto,
No mistério da vida que se renova

Uma só gota d’água contém o rio
Que corta e fecunda a terra
Mãe e fonte de todos os seres vivos.

Um só passo contém a caminhada,
Um a um, tenaz na travessia,
Aproxima do horizonte o peregrino.

Uma só palavra contém a linguagem,
Expressão mais viva de um povo,
Que revela e esconde seus segredos.

Uma só lágrima contém o pranto,
Símbolo da tormenta que devasta,
Mas também da dor que purifica e redime.

Um só sorriso contém a alegria,
Sinal de portas que se abrem,
Luz de uma cidadania sem fronteiras.

Um só olhar contém a alma,
Caminho para o encontro eu-tu
Onde a mesa será farta e fraterna.

Um só toque contém a relação com o diferente,
Ao mesmo tempo que aponta
Para a relação com o transcendente.


Pe. Alfredo J. Gonçalves
São Paulo, 19 de abril de 2006