terça-feira, 27 de abril de 2010

Vocação de Maria: um chamado, uma missão de amor!

Neste mês de maio a Igreja nos convida a celebrar com fé a vocação de Maria. Uma menina simples, do povo, “cheia de graça”, naturalmente, escolhida e profundamente amada por Deus (Lc 1,26-38). Deus a escolheu através do anjo Gabriel para uma grandiosa missão: ser a mãe do Salvador; ser aquela que acolheu o Messias no seu ventre materno.

A partir do momento que Maria aceitou o chamado de Deus e declarou “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo tua palavra!” (Lc 1,38), não teve mais medo da sua futura missão. Andou por caminhos tortuosos, enfrentando viagens duras para uma gestante. Visitou sua prima Isabel (Lc 1,39-56) e, logo após o parto migrou para uma terra estranha a fim de proteger Seu Filho (Mt 2,13-15). Quarenta dias depois do nascimento de Jesus, José e Maria apresentam o menino no templo de Jerusalém a um homem justo chamado Simeão, que os abençoou e anunciou: “Este Menino será um sinal de contradição, para ruína e salvação de muitos em Israel; e uma espada atravessará a tua alma para que se descubram os pensamentos de muitos corações” (Lc 2,22-35).

Maria acompanhou o crescimento do Menino, ensinando-lhe a vontade de Deus. Esteve presente na vida pública e missionária de Jesus, Bodas de Caná (Jo 2,1-10). Sofreu ao perceber a falta no Filho quando retornavam do Templo de Jerusalém (Lc 2,41-50). Chorou Sua morte injusta e alegrou-se com o anúncio da ressurreição, (Jo 19,25-30), a partir da qual passou a abençoar a Igreja nascente. Quando os apóstolos, discípulos e os irmãos de Jesus se reuniram no cenáculo de Jerusalém para esperarem, orando, o Espírito Santo prometido, Maria se encontrava no meio deles (Atos 1,14). Sempre uma presença materna de confiança e fé.

Maria foi fiel ao chamado missionário do Pai. Deixou-se guiar pela Palavra de Deus. Escutou e praticou a Palavra de Deus: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,20-21).

O nosso fundador João Batista Scalabrini foi muito devoto de Nossa Senhora. Ele vivia apaixonado pela Eucaristia; abraçou o mistério da cruz. Apertando a cruz episcopal ao coração, repetia com freqüência: "Faz-me, Senhor, inebriar com a cruz!". Outro aspecto de sua espiritualidade era a profunda afeição que nutria por Nossa Senhora. Seu amor a Maria se revelava em numerosas práticas devocionais e nas freqüentes romarias aos santuários marianos.

Era encontrava na oração do rosário força e luz divina para exercer seu serviço aos irmãos e à Igreja. Dizia: “Sede devotos do rosário! Estima-o! Recitemo-lo com fé, com humildade, com devoção, com perseverança. Recitemo-lo cada dia e veremos subir as orações dos homens e descer a misericórdia de Deus”.

Vibrava com as festas de Nossa Senhora, sobretudo da Imaculada. Não se deve, por isso, esquecer a ternura com que ofereceu as jóias de sua mãe à "Nossa Senhora de São Marcos", em Bedônia; nem a devoção à "Nossa Senhora Milagrosa de São Savino", em Piacenza, (Itália).

Peçamos à Deus que abençoe sempre para que sejamos fiéis seguidores do mestre Jesus Cristo tendo como modelo de vida a mãe Maria. Modelo vocacional para todos nós. Deus nosso Pai nos abençoe todos os dias pela interseção de Maria, mãe dos Migrantes.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Mensagem do Papa para 47º dia Mundial de Oração pelas Vocações

Tema: O Testemunho Suscita Vocações

Veneráveis Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, Amados Irmãos e Irmãs!

O 47º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que será celebrado no IV Domingo de Páscoa – Domingo do «Bom Pastor» –, a 25 de Abril de 2010, oferece-me a oportunidade de propor à vossa reflexão um tema que quadra bem com o Ano Sacerdotal: O testemunho suscita vocações. De fato, a fecundidade da proposta vocacional depende primariamente da ação gratuita de Deus, mas é favorecida também – como o confirma a experiência pastoral – pela qualidade e riqueza do testemunho pessoal e comunitário de todos aqueles que já responderam ao chamamento do Senhor no ministério sacerdotal e na vida consagrada, pois o seu testemunho pode suscitar noutras pessoas o desejo de, por sua vez, corresponder com generosidade ao apelo de Cristo. Assim, este tema apresenta-se intimamente ligado com a vida e a missão dos sacerdotes e dos consagrados. Por isso, desejo convidar todos aqueles que o Senhor chamou para trabalhar na sua vinha a renovarem a sua fidelidade de resposta, sobretudo neste Ano Sacerdotal que proclamei por ocasião dos 150 anos de falecimento de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, modelo sempre atual de presbítero e pároco.

Já no Antigo Testamento os profetas tinham consciência de que eram chamados a testemunhar com a sua vida aquilo que anunciavam, prontos a enfrentar mesmo a incompreensão, a rejeição, a perseguição. A tarefa, que Deus lhes confiara, envolvia-os completamente, como um «fogo ardente» no coração impossível de conter (cf. Jr 20,9), e, por isso, estavam prontos a entregar ao Senhor não só a voz, mas todos os elementos da sua vida. Na plenitude dos tempos, será Jesus, o enviado do Pai (cf. Jo 5,36), que, através da sua missão, testemunha o amor de Deus por todos os homens sem distinção, com especial atenção pelos últimos, os pecadores, os marginalizados, os pobres. Jesus é a suprema Testemunha de Deus e da sua ânsia de que todos se salvem. Na aurora dos novos tempos, João Batista, com uma vida gasta inteiramente para preparar o caminho a Cristo, testemunha que, se cumprem, no Filho de Maria de Nazaré, as promessas de Deus. Quando O vê chegar ao rio Jordão, onde estava a batizar, João indica-O aos seus discípulos como «o cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo» (Jo 1,29). O seu testemunho é tão fecundo que dois dos seus discípulos, «ouvindo o que ele tinha dito, seguiram Jesus» (Jo 1,37).

Também a vocação de Pedro, conforme no-la descreve o evangelista João, passa pelo testemunho de seu irmão André; este, após ter encontrado o Mestre e aceite o seu convite para permanecer com Ele, logo sente necessidade de comunicar a Pedro aquilo que descobriu «permanecendo» junto do Senhor: «“Encontrámos o Messias” (que quer dizer Cristo). E levou-o a Jesus» (Jo 1,41-42). O mesmo aconteceu com Natanael – Bartolomeu –, graças ao testemunho doutro discípulo, Filipe, que cheio de alegria lhe comunica a sua grande descoberta: «Acabámos de encontrar Aquele de quem escreveu Moisés na Lei e que os Profetas anunciaram: é Jesus, o filho de José, de Nazaré» (Jo 1,45). A iniciativa livre e gratuita de Deus cruza-se com a responsabilidade humana daqueles que acolhem o seu convite, e interpela-os para se tornarem, com o próprio testemunho, instrumentos do chamamento divino. O mesmo acontece, ainda hoje, na Igreja: Deus serve-se do testemunho de sacerdotes fiéis à sua missão, para suscitar novas vocações sacerdotais e religiosas para o serviço do seu Povo. Por esta razão, desejo destacar três aspectos da vida do presbítero, que considero essenciais para um testemunho sacerdotal eficaz.

Elemento fundamental e comprovado de toda a vocação ao sacerdócio e à vida consagrada é a amizade com Cristo. Jesus vivia em constante união com o Pai, e isto suscitava nos discípulos o desejo de viverem a mesma experiência, aprendendo d’Ele a comunhão e o diálogo incessante com Deus. Se o sacerdote é o «homem de Deus», que pertence a Deus e ajuda a conhecê-Lo e a amá-Lo, não pode deixar de cultivar uma profunda intimidade com Ele e permanecer no seu amor, reservando tempo para a escuta da sua Palavra. A oração é o primeiro testemunho que suscita vocações. Tal como o apóstolo André comunica ao irmão que conheceu o Mestre, assim também quem quiser ser discípulo e testemunha de Cristo deve tê-Lo «visto» pessoalmente, deve tê-Lo conhecido, deve ter aprendido a amá-Lo e a permanecer com Ele.

Outro aspecto da consagração sacerdotal e da vida religiosa é o dom total de si mesmo a Deus. Escreve o apóstolo João: «Nisto conhecemos o amor: Jesus deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos» (1 Jo 3,16). Com estas palavras, os discípulos são convidados a entrar na mesma lógica de Jesus que, ao longo de toda a sua vida, cumpriu a vontade do Pai até à entrega suprema de Si mesmo na cruz. Manifesta-se aqui a misericórdia de Deus em toda a sua plenitude; amor misericordioso que derrotou as trevas do mal, do pecado e da morte. A figura de Jesus que, na Última Ceia, Se levanta da mesa, depõe o manto, pega numa toalha, ata-a à cintura e Se inclina a lavar os pés aos Apóstolos, exprime o sentido de serviço e doação que caracterizou toda a sua vida, por obediência à vontade do Pai (cf. Jo 13,3-15). No seguimento de Jesus, cada pessoa chamada a uma vida de especial consagração deve esforçar-se por testemunhar o dom total de si mesma a Deus. Daqui brota a capacidade para se dar depois àqueles que a Providência lhe confia no ministério pastoral, com dedicação plena, contínua e fiel, e com a alegria de fazer-se companheiro de viagem de muitos irmãos, a fim de que se abram ao encontro com Cristo e a sua Palavra se torne luz para o seu caminho. A história de cada vocação cruza-se quase sempre com o testemunho de um sacerdote que vive jubilosamente a doação de si mesmo aos irmãos por amor do Reino dos Céus. É que a presença e a palavra de um padre são capazes de despertar interrogações e de conduzir mesmo a decisões definitivas (cf. João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Pastores dabo vobis, 39).

Um terceiro aspecto que, enfim, não pode deixar de caracterizar o sacerdote e a pessoa consagrada é viver a comunhão. Jesus indicou, como sinal distintivo de quem deseja ser seu discípulo, a profunda comunhão no amor: «É por isto que todos saberão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13,35). De modo particular, o sacerdote deve ser um homem de comunhão, aberto a todos, capaz de fazer caminhar unido todo o rebanho que a bondade do Senhor lhe confiou, ajudando a superar divisões, sanar lacerações, aplanar contrastes e incompreensões, perdoar as ofensas. Em Julho de 2005, no encontro com o Clero de Aosta, afirmei que os jovens, se virem os sacerdotes isolados e tristes, com certeza não se sentirão encorajados a seguir o seu exemplo. Levados a considerar que tal possa ser o futuro de um padre, vêem aumentar a sua hesitação. Torna-se importante, pois, realizar a comunhão de vida, que lhes mostre a beleza de ser sacerdote. Então, o jovem dirá: «Isto pode ser um futuro também para mim, assim pode-se viver» (Insegnamenti, vol. I/2005, 354). O Concílio Vaticano II, referindo-se ao testemunho capaz de suscitar vocações, destaca o exemplo de caridade e de fraterna cooperação que devem oferecer os sacerdotes (cf. Decreto Optatam totius, 2).

Apraz-me recordar o que escreveu o meu venerado predecessor João Paulo II: «A própria vida dos padres, a sua dedicação incondicional ao rebanho de Deus, o seu testemunho de amoroso serviço ao Senhor e à sua Igreja – testemunho assinalado pela opção da cruz acolhida na esperança e na alegria pascal –, a sua concórdia fraterna e o seu zelo pela evangelização do mundo são o primeiro e mais persuasivo fator de fecundidade vocacional» (Pastores dabo vobis, 41). Poder-se-ia afirmar que as vocações sacerdotais nascem do contacto com os sacerdotes, como se fossem uma espécie de patrimônio precioso comunicado com a palavra, o exemplo e a existência inteira.

Isto aplica-se também à vida consagrada. A própria existência dos religiosos e religiosas fala do amor de Cristo, quando O seguem com plena fidelidade ao Evangelho e assumem com alegria os seus critérios de discernimento e conduta. Tornam-se «sinais de contradição» para o mundo, cuja lógica frequentemente é inspirada pelo materialismo, o egoísmo e o individualismo. A sua fidelidade e a força do seu testemunho, porque se deixam conquistar por Deus renunciando a si mesmos, continuam a suscitar no ânimo de muitos jovens o desejo de, por sua vez, seguirem Cristo para sempre, de modo generoso e total. Imitar Cristo casto, pobre e obediente e identificar-se com Ele: eis o ideal da vida consagrada, testemunho do primado absoluto de Deus na vida e na história dos homens.

Fiel à sua vocação, cada presbítero, cada consagrado e cada consagrada transmite a alegria de servir Cristo, e convida todos os cristãos a responderem à vocação universal à santidade. Assim, para se promoverem as vocações específicas ao ministério sacerdotal e à vida consagrada, para se tornar mais forte e incisivo o anúncio vocacional, é indispensável o exemplo daqueles que já disseram o próprio «sim» a Deus e ao projeto de vida que Ele tem para cada um. O testemunho pessoal, feito de opções existenciais e concretas, há-de encorajar, por sua vez, os jovens a tomarem decisões empenhativas que envolvem o próprio futuro. Para ajudá-los, é necessária aquela arte do encontro e do diálogo capaz de os iluminar e acompanhar sobretudo através do exemplo de vida abraçada como vocação. Assim fez o Santo Cura d’Ars, que, no contacto permanente com os seus paroquianos, «ensinava sobretudo com o testemunho da vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar» (Carta de Proclamação do Ano Sacerdotal, 16/06/2009).

Que este Dia Mundial possa oferecer, uma vez mais, preciosa ocasião para muitos jovens refletirem sobre a própria vocação, abrindo-se a ela com simplicidade, confiança e plena disponibilidade. A Virgem Maria, Mãe da Igreja, guarde o mais pequenino gérmen de vocação no coração daqueles que o Senhor chama a segui-Lo mais de perto; faça com que se torne uma árvore frondosa, carregada de frutos para o bem da Igreja e de toda a humanidade. Por esta intenção rezo, enquanto concedo a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 13 de Novembro de 2009.
BENEDICTUS PP. XVI

Vocação, talento a ser cuidado!

Pe. Alexandre De Nardi Biolchi, cs.

Cada ser humano recebe de Deus muitos dons e talentos ao longo da vida. O primeiro deles é o próprio dom de viver. Este talento é algo que ganhamos sem esforço e merecimento algum, é pura graça divina. A vocação é outro dom especial que recebemos de Deus. Ele distribui gratuitamente a cada ser humano este talento, não é igual para todos, mas todos o recebemos em suas distintas formas e especificidades e, nos convida a cuidá-lo, pois do cultivo deste talento depende a nossa felicidade.

Em seu evangelho Jesus conta várias parábolas e em uma delas fala justamente do cuidado que devemos ter com aquilo que recebemos de Deus. Trata-se da Parábola dos Talentos (Mt 25, 14-30). Acredito que esta passagem bíblica pode nos ajudar a entender e a viver melhor o nosso compromisso com a vocação recebida.

Nesta parábola Jesus se auto-representa como um dono de terras que tem que se ausentar e confia aos empregados o trabalho em sua propriedade. Fala-se de três servos que receberam os talentos, segundo suas capacidades pessoais. Eram pessoas que certamente tinham a confiança absoluta do seu senhor. Um recebeu cinco, outro dois e o terceiro um, com toda a liberdade de usá-los como quisessem. O que recebeu cinco, não vacilou, e saiu em busca de um retorno à confiança de seu senhor, da mesma forma fazendo o que recebeu dois. “Mas, aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o talento do seu patrão” (Mt 25, 18).

Por que este empregado que recebeu um só talento enterrou o talento recebido? Parece-nos que aquele homem pensou que enterrando o talento recebido, ficaria neutro e não precisaria nem se desculpar em relação a seu senhor. Ele entenderia sua preferência pela neutralidade e não cobraria dele a falta de uso do talento, afinal, era um só, e não faria falta a seu senhor. Mas neutralidade não é uma opção de quem quer viver uma vocação. Quem procede com neutralidade, mais cedo ou mais tarde irá dar-se conta que a vida fica sem gosto, sem sabor, sem sentido.

Diante desse panorama é preciso criar consciência da nossa missão no mundo, da nossa vocação. Não há dúvida que Deus nos deu muitos dons e talentos. Cabe a cada um de nós descobrirmos quais são eles. E, num segundo momento, fazer nossa opção: que farei com os dons e talentos recebidos? Vou colocá-los a serviço da minha realização humana, da minha felicidade e consequentemente da realização da vontade de Deus ou vou desprezar através de uma “falsa humildade” e enterrá-los?

Sou livre para tomar esta decisão? A vocação é uma opção totalmente minha. Somente eu é que posso decidir sobre meus talentos, sobre minha vocação, sobre meu projeto de vida, sobre meu futuro. Agora bem, dizer que “somente eu posso decidir”, não significa dizer que eu posso fazer o que quero, que “vale tudo”, mas muito pelo contrário, que minha realização humana depende da descoberta da minha vocação e da minha opção pela sua realização tendo o cuidado de cultivá-la. E, não condicionando minha opção por aquilo que os outros pensam e esperam de mim.

Jovem, você não tem nenhuma desculpa para deixar de usar os dons e talentos que Deus lhe deu. Afinal, alguma coisa você sabe fazer. Portanto, procure descobrir quais são os seus talentos, para quê você é chamado, e não demore, comece hoje mesmo a cuidar e a fazer com que estes talentos produzam frutos.

Querido vocacionado, a vocação é um talento que você recebeu de Deus, não para ser enterrado, mas para ser cuidado e cultivado a fim de que possa produzir os frutos desejados.