sexta-feira, 4 de junho de 2010

Itinerante por Amor

Toda pessoa de fé tem uma espiritualidade. Ela é fruto daquilo que se crê e se vive. É ação do Espírito que age no íntimo de cada ser humano. Toda verdadeira espiritualidade conduz a um processo de transformação interior. “Mestre, o que é espiritualidade?” perguntou o discípulo e ele respondeu-lhe: “Espiritualidade é aquilo que consegue levar-te a uma transformação interior”.

A espiritualidade assim entendida, não se resume a práticas mágicas de incenso queimado ou de novenas apenas para receber alguma graça e nada mais. Espiritualidade é um estilo de vida fundamentado na vivência prática e concreta do Evangelho. É viver como Jesus. É transformar o próprio ser e, de conseqüência, toda a vida. É poder dizer como o Apóstolo Paulo: “Já não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.

Assim é a espiritualidade scalabriniana: um estilo de vida que imita Jesus Cristo.

Jesus entende a sua vida como um caminhar permanente (“É preciso que eu caminhe hoje, amanhã e depois de amanhã” – Lc 13,33); como um andar ao encontro das pessoas para levá-las consigo no caminho da transformação. Como seres humanos estamos sempre a caminho. Não podemos ficar parados. E caminhando nos transformamos. Estamos a caminho com Jesus. Ele é o nosso guia: aquele que abre o caminho e que vai à nossa frente. Portanto, nosso caminhar é um “seguir” Jesus. Ele é o “sem pátria”, excluído por muitos, que anda por este mundo afora sem encontrar quem o receba. Ser “sem pátria” faz parte também do nosso “ser cristão”.

A paixão por Jesus Cristo é o segredo da vida e da ação de João Batista Scalabrini. Ele contempla continuamente o Filho de Deus que se fez homem, que veio “armar a sua tenda entre nós”, caminhar com a humanidade e reconduzir o ser humano renovado para o Pai. Scalabrini contemplou o rosto de Cristo no rosto de tantos migrantes sofridos. Viu neles o Cristo Peregrino que continua sua caminhada pelos caminhos tortuosos da humanidade. Cristo se deixa contemplar no migrante, no itinerante, no peregrino. O Fundador passou esta sua paixão para seus missionários e missionárias.

A itinerância é uma característica chave da espiritualidade scalabriniana. Como Jesus foi itinerante, como o migrante é um itinerante, assim o scalabriniano/a é itinerante. Caminha e peregrina com a consciência de que a pátria verdadeira está na eternidade. Caminha ao encontro do outro, vai a sua procura. Caminha porque tem um rumo e uma meta a alcançar. Caminha porque é missionário/a, ou seja, leva consigo a boa nova de Cristo. Todo itinerante é um ser desprendido dos bens (“Não levem nada para o caminho...” – Lc 9,3) e dos afetos (“Quem não deixar pai, mãe, irmãos...” – Lc 14,26); é humilde (“Caminha humildemente com o teu Deus” – Mq 6,8); é disposto ao sacrifício (“Quem não toma a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo” – Lc 14,27); confia na Providência (“Não fiquem procurando o que vão comer e o que vão beber... O Pai bem sabe que vocês têm necessidade dessas coisas” – Lc 12,29-30). Viver a itinerância como um caminho espiritual é deixar-se guiar pelo Espírito e transformar a própria vida.

Itinerante por amor, por paixão, por vocação, assim como o Cristo Peregrino: esta é a marca do scalabriniano/a.

Pe. Evandro Antônio Cavalli, cs

2 comentários:

  1. Gostei muito do texto...está escrito de forma clara e compreensível.estava precisando de conteúdo para falar com coroinhas sobre vocação intinerante...me ajudou muito...obrigada...

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  2. Parabéns!

    Tenho saudades de um tempo.

    Rezo por todos.

    Felicidades!

    Jovino José Balbinot

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