quarta-feira, 5 de maio de 2010

ONDE VOCÊ BUSCA SUA FELICIDADE?

Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs.

Há quem a busque, em primeiro lugar, no sucesso profissional, procurando a todo custo acumular certificados e diplomas de capacitação, correndo o tempo todo atrás de novas oportunidades e promoções, tecendo contatos com pessoas poderosas e influentes, ocupando todos os espaços que se apresentam; pouco importa se tal atitude, por vezes, “puxa o tapete” a outros candidatos...

Há quem a busque, em primeiro lugar, no bem-estar sócio-econômico, medido-a pelo volume das contas bancárias; pelo estilo e aparência da casa, da chácara, do iate, ou pelas viagens a Miami ou Paris; pelo modelo do carro ou pela atualização permanente do computador e do celular; pela imagem de status diante dos representantes da “socialite”; pelos holofotes da mídia, sempre ávida de exageros e escândalos, como os abutres o são de carne podre...

Há quem a busque, em primeiro lugar, no culto ao corpo, nivelando-a pelo tamanho do bumbum e dos seios; pelo porte esbelto ou pose escultural; pelas roupas de grife última moda, ditadas pelas passarelas; daí a síndrome do corpo perfeito, o risco da anorexia, e o enorme sucesso das academias de “malhação”...

Há quem a busque, em primeiro lugar, no afã insaciável de “ir às compras”, submetendo-se ao rolo compressor da produção-comercialização-consumo, marca registrada da sociedade ocidental; as cores e sons, imagens e luzes do shopping cegam e fascinam, seduzindo os incautos, prontos a adquirir todo tipo de bijuteria que aparece no mercado; quartos, gavetas e bolsos se enchem de objetos que nunca serão utilizados...

Há quem a busque, em primeiro lugar, noutro tipo de consumo, devorando filmes, shows, jogos, programas de TV, teatro, livros best-seller, eventos, enfim, todo tipo de espetáculo; mas tais atrações não conseguem aplacar a carência de novidades; o vazio volta a impor-se com a teimosia e tenacidade da sede...

Há quem a busque, em primeiro lugar, na ânsia mórbida de comer e beber sem medida; o espaço entre as refeições parece interminável e a espera transforma-se num verdadeiro suplício; desencadeia-se uma corrida desenfreada aos hambúrgueres tipo “Mcdonald” e hot-dog, pizzarias, lanchonetes, restaurantes; a boca e o estômago ganham a reverência de deuses tiranos e insaciáveis...

Há quem a busque, em primeiro lugar, em relações superficiais, efêmeras e descartáveis; o sexo se converte num passatempo inconseqüente, a amizade e o amor viram sinônimos de prazer momentâneo, o “ficar” substitui o namorar; o outro, ele ou ela, não passa de um objeto de uso, que se troca facilmente como uma peça de roupa ou do automóvel...

Todas essas buscas representam uma moeda de duas faces: podem estabelecer relações sadias e sadia realização pessoal, por um lado, mas, por outro, quando compulsivamente exacerbadas, podem saturar e conduzir a um beco sem saída. Neste caso, deixam pelo caminho seres humanos feridos, desfigurados, fragmentados, descentrados e perdidos.

Somente uma relação sadia e profunda com a natureza, com as coisas que nos cercam, conosco mesmos, com o outro e com Deus pode trazer uma felicidade duradoura. Evidente que isso exige abertura para um constante morrer, renascer e crescer. Nascimento, morte, renascimento e crescimento só ocorrem em meio à dor. Hoje buscamos analgésicos para tudo, perdemos a lição do sofrimento. Este, se e quando mastigado e digerido no silêncio da reflexão e do entendimento, ensina a caminhar, depura e purifica a alma, “na intimidade ensina sabedoria”, como lembra o salmo.

A felicidade não está nas realizações visíveis, nos atos heróicos, nos gestos grandiosos. Como a água é constituída de mil gotas, ela é feita das pequenas alegrias do cotidiano, de fontes de prazer genuíno e transparente. Uma pessoa feliz não gosta do sensacionalismo da mídia, mas de relações miúdas, firmes e sólidas. O riso lhe vem não tanto do rosto, mas do coração, onde mora a memória dos amigos e a imagem do Deus vivo e presente. Numa palavra, a felicidade não se fundamenta na quantidade matemática dos laços que costura, e sim na profundidade e permanência dessa rede fraterna e solidária.

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